Bom Ano
Ninguém disse nada
Visitei caminhos que ansiavam que alguém os pisasse, acompanhado por nuvens escuras de grande envergadura, por muito tempo fui eu, elas, os caminhos e a minha amargura. Nos longos caminhos que percorri, de mão dada comigo mesmo, enterrei as botas na lama, choveram muitas vezes, ainda que apenas no meu rosto; demorei mais do que o pensei demorar. Se antes me sentia sozinho e desamparado, de ouvidos fechados, hoje sinto-me cansado, mas capaz de ouvir e ver, ver e ouvir aquilo e aqueles que me rodeiam. Olho a minha sombra com pesar, a nossas formas já não são iguais e quem mudou, por força da Caminhada, fui eu. A todos os que descuidei durante a minha viagem, as minhas desculpas; a mim - a quem ainda não tive a capacidade de perdoar – sei que vou desculpar um dia. Até lá vou moldar-me à minha sombra e encontrar em mim a força para perdoar também quem me forçou pelo longo trilho no deserto.
Ninguém disse que ia ser fácil, mas citando Shakespeare, ‘Não há noite tão longa que não encontre o dia.’…